terça-feira, 7 de junho de 2011

ÚLTIMO SUSPIRO (Adoaldo Ribeiro de Araújo)


Acordo melancólico e abro a janela, observo a ingenuidade da natureza compassiva e ao mesmo tempo sábia, indefesa e ao mesmo tempo exuberante, frágil e ao mesmo tempo agressiva e persistente.
Certamente nela estamos todos contidos, seres habitantes desta casa transitória, humanos, julgamo-nos superiores, a que não sei ao certo, talvez diante do superlativo valor atribuído a nós mesmos. Solitário, muitas vezes tendo que recorrer a “Ela”, sim a “Ela” mesmo, à natureza, em suas diversas formas para na sua simplicidade minimizar a brutalidade humana na busca de respostas aos vazios, às mazelas sociais, às tentativas fracassadas e à incompreensão humana do que ainda em outra dimensão, não pode ser compreendido.
É “Nela” e com “Ela” que oxigenamos os neurônios, relaxamos os músculos, descansamos a visão, sentimos o dilatar da audição, saciamos o olfato, matamos a fome, a sede e complementamos as nossas necessidades, percebemos através do contato o equilíbrio em que nela existe, despertando a razão, o sentido da intuição para a compreensão da totalidade.
É “Nela” e com “Ela” que realizamos os nossos desejos e extravagâncias, abusos e luxúrias, conquistas e perdas; sim, falo de perdas porque tudo se finda para reiniciar um novo ciclo e é “Nela” como soberana que encontramos sempre a resposta, pois estaremos sempre refém dos seus ciclos. Todavia é na sua simplicidade que aos poucos compreendemos o quebra-cabeça divino e na qualidade de soberbos aprendizes, de caminheiros nem sempre devolvemos as dádivas que recebemos da mãe Terra.
Concluímos então, o quanto ainda somos primários e inexperientes nesta caminhada de sabedoria e domínio ao qual ajuizamos de evolução.

Portanto:

Se me disseres que ama a natureza, aplaudirei.
Se me contares dos teus feitos, aplaudirei ainda mais.

Mas, se fizeres algo de concreto, ficarei muito satisfeito,
e ainda mais se falares tu mesmo de tuas experiências,
conta comigo, pois estarei junto a ti.

Se algum dia acordares melancólico, como hoje amanheci,
busca a natureza e medita sobre a vida.
Em cada canto ou coisa que observares, encontrará:
sintonia e alegria,
trabalho e sinergia,
construções e oportunidades,
pois somos apenas uma peça desta engrenagem.

Assim é a Natureza:
Encanta, porque possui o toque especial do Criador;
Espanta e assusta, pela sabedoria, grandiosidade e perfeição;
Alegra, pois os sons, contrastes, cores e matizes fazem-nos reverenciar.

Assim deveria ser o Homem:
permitir-se absorver pela síndrome de DEUS.
D de domínio, pois assim foi possível com a evolução, fruto da inteligência;
E de equilíbrio, a solução, a chave a ser testada, fruto do domínio;
U de unicidade, convergência de ações para resultados, fruto do equilíbrio;
S de sustentabilidade, o novo paradigma a ser testado, fruto das demais.

E assim é a Natureza, ou somos partes ou reféns,
tudo depende do destino que queiramos dar.
Se a natureza encanta, assusta ou alegra
e nos permite em algumas situações dominar,
necessário se faça de forma equilibrada e sustentável.

Necessitamos rever os nossos conceitos,
fazendo cruzar ares, vales e mares,
repensando o que verdadeiramente queremos
para auferir se realmente teremos futuro.

A distância entre vida e morte, e morte e vida, é uma ponte, curva ou travessia;
portanto somos todos indistintamente Co-criadores,
recebemos a batuta, cabendo-nos a sintonia com o conjunto,
para que façamos os melhores arranjos junto à orquestra.

Muitas espécies desapareceram e neste ritmo desaparecerão a cada dia,
e já anunciaram que o homem ultrapassou em 20% os limites
de exploração que o planeta pode suportar sem se degradar.
Ai, se não fosse à solicitude de anônimos, bravos e fieis defensores,
guardiões e escudeiros, que arriscam as próprias vidas
para defender aqui, ali, acolá um ecossistema,
que sob a brutalidade do suposto progresso e desenvolvimento
desmantela o que convenhamos levou milhares e milhões de anos
para, paciente, pacientemente, construir.

Não conseguiremos a resposta para esta equação,
apenas vislumbrando os nossos pés,
necessitamos esgueirar os olhares
para a complexa cadeia de informações da natureza,
na sua quase infinidade de leis e códigos,
para com a receita em mãos,
possamos compreender o compreensível,
certamente o racional.

A mensagem sobreviverá, cruzará desertos, montanhas, mares e épocas,
tudo depende da humílima contribuição de cada um.
Podemos fazer acontecer por muitos, mas não por todos.
Fica mais fácil, rápido, justo e grandioso
a contribuição individual de cada um.
Caso contrário haverá em algum canto do universo,
alguém a relatar o histórico da mal sucedida civilização perdida
da Terra.

E assim sempre foi até aqui, o destino da humanidade,
sob a égide do sacrifício de alguns.
Ainda é possível reviver a história do planeta,
e assim será como a mensagem, sob o esforço de heróis
fará com que a vida seja possível
atravesse séculos, quem sabe gerações.

Estas figuras vão nos marcar para sempre,
pois quando delas nos lembrar,
saberemos o quanto fomos covardes, presunçosos e egoístas.
Além de muitos não fazerem a sua parte,
ainda atrapalham o correto caminhar destes granjeiros da vida
e estes marcarão a todos pela sua significância e serão eternamente lembrados
por todas as criaturas que sobreviverem a uma possível
hecatombe ambiental.

Olhe, viva e usufrua da Natureza.
Porém, cuide, recupere e respeite os seus limites.
As nossas culturas aborígines já sabiam disto
e nós as destruímos a exemplo dos índios Payayas,
agora temos que reaprender sem eles.

Mas nunca será tarde para um novo recomeço,
estude, leia, divulgue e pratique as diversas maneiras
de colaborar com a natureza.
Um velho jargão nos diz: “a natureza não dá saltos”,
mas ainda há tempo para em passos largos
darmos a nossa contribuição,
ou estamos a caminho de na qualidade de neófitos do conhecimento,
frios e insensíveis como às lápides,
esperarmos pelo Apocalipse.

Vivemos o nível da intelectualidade, do conhecimento, das conquistas e
morremos na sensibilidade, ambos fruto de nossas escolhas.

Plante ou cuide de uma árvore, limpe um rio, reduza o lixo,
evite o consumismo, divulgue o saber, despertem pessoas
e em pouco tempo terá um exército na defesa da causa.

Insista a todo o momento: Natureza é vida e vida é necessária.
Quem ama e preserva os recursos naturais, não só mantém a vida,
como permite que a história da vida continue... continue...

Simples, bela e encantadora.

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