sexta-feira, 27 de abril de 2012

DESABAFO DE UMA NORDESTINA (ETHEL MENDES)

Meu nome é Etelvina Vim da cidade de Jacobina Fica na Chapada Diamantina Sou baiana de nascimento e paulistana de coração Saí de lá ainda menina Para trabalhar e ganhar o pão. Sou uma mulher que batalha Quando pega no trabalho não larga Até terminar a missão Sou uma operária Que espera a reforma agrária Para viver com minha mãe e meus irmãos. De onde eu vim não tem chuva, não tem água Só a dos olhos de minha mãe, a lágrima De saudades minhas e muita mágoa Do descaso com meu sertão. A seca é brava, a fome é muita e não tem jeito? Nem queira saber minha gente, O aperto que dá no peito Quando se vê criança com fome, pedindo pão. Fui criança pobre, filha de viúva Não soube o que é ter pera, nem uva Muito menos, pão com requeijão Só sabia o que era farinha, De vez em quando, carne de galinha, Mas todo dia, tinha feijão. Cresci forte e bem valente Acho que até inteligente Matando um leão por dia Para vencer como devia Para minha mãe ficar contente E tirar o pé do chão.