segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Há quarenta e oito anos (Cledson Sady)


Hoje percebi que há trinta anos fiz dezoito anos. Há trinta anos entrei na faculdade, conheci a odontologia.
Há trinta anos me indignava com a ditadura militar, com os políticos e partidos de direita, descendentes da ARENA. Há 30 anos assumia a Presidência da República outro general, desta vez um vindo do SNI: João Batista Figueiredo. Há 30 anos admirava a inteligência de Chico Buarque e de Milton Nascimento e ouvi na voz de Elis Regina “O Bêbado e o equilibrista”. Há 30 anos tirei carteira de motorista e dividia com minha irmã um fusca 1976.
Há 30 anos já conhecia o Espiritismo, embora não fosse um militante da causa, nem o compreendesse direito. Há 30 anos tirei título de eleitor e ele só foi usado para votar em candidatos compromissados com a melhoria da qualidade de vida da população. Há 30 anos passados, eu gozava da companhia de meu pai e de minha mãe, ambos com mais ou menos a mesma idade que tenho hoje. Há 30 anos eu participei de torneios de pesca em Abaís, Sergipe, conhecia os pescadores de Buraquinho, onde passei muitos finais de semana.
Há 30 anos eu me apaixonei muitas vezes, pensando que era para sempre, todas as semanas.
Há 18 anos eu trintei. Já era casado com Arlene e tinha meus dois filhos, Danilo e Nayara. Há 18 anos já era militante espírita “ortodoxo”, havia participado da fundação de duas instituições espíritas, uma em Mundo Novo e outra em Salvador, e achava que conhecia bem a Doutrina. Há 18 anos já era órfão de pai. Era funcionário concursado da SESAB, dava plantão no Hospital Menandro de Farias, sofria com a inflação de Sarney, participava de programa espírita na Rádio Clube AM, em Salvador, tinha consultório em Camaçarí.
Há 18 anos já participava das Semanas Espíritas em Jacobina, cidade que conheci alguns anos antes e acabei por me transferir de vez em 1992, fugindo do tumulto de Salvador, buscando um lugar mais calmo para meus filhos crescerem em paz.
Há 18 anos me decepcionava cada dia mais com os políticos brasileiros, especialmente com o presidente alagoano, que ganhara a primeira eleição depois da ditadura militar e decepcionou os mais pobres. Há 18 anos ouvia o "Legião Urbana" cantar “Pais e Filhos”.
Há oito anos entrei na idade do Lobo, plantei alguns pés de pitomba, que já produziram frutos. Há mais de oito anos implantei meu refúgio do Tapuio, tenho consultório em Jacobina, estou na Academia Jacobinense de Letras, participo da União Espírita de Jacobina e ajudei a fundar a ABO secção de Jacobina. Há mais de oito anos sou órfão de pai e mãe, hipertenso e diabético, participei de antologias literárias na Academia Jacobinense de Letras, tenho escrito alguns livros e os guardado.
Há oito anos meus filhos ainda moravam comigo, em Jacobina, eu nada sabia da Luta anti-manicomial, dos Caps, do PV nem da Terapia Comunitária.
Há 30 anos, há 18 anos, há 48 anos eu andei construindo algo. Só sei, hoje, que ainda não acabei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário