Jacobina,
cenário de beleza e elegância. Por atrevimento e delírio literário, me ouso a
dizer, que é fêmea, suas curvas demostram a delicadeza da alma feminina,
emponderada pelos efeitos naturais da sua bela paisagem, nordestina, sertaneja,
cangaceira, simples, forte e singular. Retratá-la é um desafio, porém relembro
em recortes imaginativos que sombreiam as intuições palpitantes e saudosistas
da terra que escolhi para aterrissar. Terra mãe, terra pai...soberana das
regiões que povoa no polígono da seca.
A ponte
do Rio Itapicuru-Mirim era um palco de múltiplas contemplações. Com as fortes
chuvas torrenciais que alagavam as ruas e aumentavam de volume as águas do seu
leito e do Rio do Ouro, assim, como também, as trovoadas nas tardes quentes de
verão, o ar aquecido experimentávamos ondas de calor de tirar o fôlego. A
natureza traduzia com demonstrações de cordialidade a sua prazerosa presença
nesses dias de intensas chuvas. Um clima típico de nossa região, seco e brisas
pouco circulares.
Os
efeitos sonoros do ribombar posterior a um trovão, somente poderíamos escutar o
eco de tal magnitude por conta da beleza natural dos morros esculpidos pelas
mãos do arquiteto erosivo do tempo. Eram momentos de meditar, de rezar, orar em
baixo do cobertor, e das gotas de chuvas que escapavam pelos minúsculos furos
nas telhas desavisadas de que naquela tarde iria chover.
No céu nuvens
pesadas e raios entrelaçavam-se temporariamente, agonizando-se nos últimos
suspiros; ao anunciar um brilho intenso do relampejar seria como os holofotes
cinematográficos, atentos a cada close do belo recanto geográfico, esplendor de
natureza viva. Doravante Jacobina era um Presépio aos olhos dos que por ali
passavam a deslumbrar todo aquele espetáculo. Descortinava-se em uma bela obra
de arte natural, onde dos morros as inúmeras cachoeiras, ladrilhavam as ruas
com pedras e bolhas de águas transparentes que escorriam o liquido ouro das
nascentes ladeira a baixo.
Do alto
da ponte, podíamos assistir a alguns de seus espetáculos, raros momentos
proporcionados pelos saltos mortais dos moços atrevidos e corajosos, que se
jogavam de mergulho a baixo nas águas barrentas do rio Itapicuru-Mirim
resultantes das intensas chuvas que teimavam em cair.
Em meio
aquele cenário espontâneo e irreverente, o arco-íris multicolorido dava-nos
boas vindas com um sorriso largo de poeta, convidando mentes comuns a abrir sua
veia poética, a confabular um papo filosófico, a transformar um recorte da
realidade numa pintura, sei lá, a compor uma música ou mesmo, quiçá, tentar um
som no violão desafinado, tudo isso para revelar um grito dos que pulsam a
rebeldia. Não recordo de alguma garota que quisesse ser irradiada pela magia
das cores, de metamorfosear o gênero feminino/masculino, encorajando-a a
participar das aventuras dos jovens acrobatas, será que só eram coisas de
menino?
Os
espectadores curiosos ficavam horas a fio contemplando a paisagem, assim como,
a ousadia dos garotos que não se cansavam de exibir-se com seus mirabolantes
saltos acrobáticos. Impressionante, tal façanha. Despiam-se a alma em frações
de segundo com um mergulho sem fim nas águas turvas, cheias de redemoinhos.
Eles transcendentalmente pareciam exímios bailarinos, cuja dança pirotécnica de
seus corpos ao saltarem no rio exibiam uma coreografia insólita, que convidava
os bravos aventureiros a um forte abraço com aquela apresentação, ora fatal ou
cheia de emoções únicas, jamais vividas, o que importava era a adrenalina do
sangue jacobino que corria nas veias. Era assim, o Rio Itapicuru-Mirim e os
seus amantes, quando se encontravam era um frenesi de arrepiar, ao pódio da
gloria ou da desgraça. De braços estendido, os garotos lá se jogavam. O urubu
do alto olhava manso e sorrateiro esperando a oportunidade de dar o seu voo
rasante, a espera de mais um espectro humano ao seu banquete caniçal.
Era um
olhar fotográfico sem máquina, que aguçava-me algumas inquietações, sabe Deus
qual era... como bem diz meu amigo Paulo Magalhães, "Ninguém precisa de
uma máquina para ser fotógrafo", é bem verdade que os primeiros registros
se faz pelo olhar, e aí registra-se nos arquivos da memória para sempre. Pois
é, fatos que não se apagam nas lembranças de meu ship mental, arquivados como
herança de uma infância de menina inquieta, que pertencem tais eventos somente
à minha vida e que agora revelo em palavras esses momentos únicos e
insubstituíveis.
Exponho
em narrativas literárias o cotidiano, lembranças pitorescas de uma infância
interiorana ao atravessar a ponte do Rio Itapicuru-Mirim, divisor de águas e
cenários de grupos identitário de pertencimento local, que traduz uma vida
recheada na simplicidade.
Itapicuru-Mirim,
a sua morte foi anunciada pelos tentáculos do capitalismo, que ainda te faz
sangrar lentamente num suplício sem fim, agonizando-o sem ar, sem água e sem a
natureza viva dos peixes que despertavam o brilho no olhar dos curiosos que por
ali transitavam, com seus anzóis. Quando caio em pensamentos saudosistas
vislumbro seu passado de vida, reascendendo a minha infância feliz, mas agora
entregue à morte, vulnerável à insensatez humana, não por sua vontade e sim
pelo descaso alheio, morro com você, sentindo-se envergonhada ao mesmo tempo
impotente por nada fazer.
Itapicuru-Mirim,
hoje ainda é um guerreiro-negro sem arco, sem flecha e sem cocá, seu curso não
mais perene, os teus pulmões com pouco ainda respira e inspira! Itapicuru-Mirim
conhecido como um Oásis do Sertão
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